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A Plataforma Cidadania XXI vai entregar o seu manifesto ao Presidente da República. Nele defende o fim da obrigatoriedade da máscara (até em espaços fechados) e que seja dada mais atenção às outras doenças.

A Plataforma Cidadania XXI vai entregar esta sexta-feira, 13 de novembro, uma cópia do seu manifesto e da Constituição da República Portuguesa à residência oficial do Presidente da República e outra à residência oficial do primeiro-ministro, em Lisboa. No manifesto, este grupo de cidadãos apela a uma “gestão transparente da crise sanitária e à aplicação de medidas proporcionais, sempre respeitando os direitos, liberdades e garantias dos portugueses”, no âmbito da pandemia de Covid-19.

O porta-voz desta plataforma, António Jorge Nogueira, afirma que a forma como todos os países (exceção feita à Suécia) foi errada e que daqui a uns anos irão reconhecer o erro. “O mundo está todo errado na forma como está a lidar com a pandemia. É isso que vamos pensar daqui a uns anos”, vaticina em declarações à SÁBADO.

A Cidadania XXI assegura que não é negacionista da Covid-19. Reconhece que o vírus existe, é perigoso e que devem ser tomadas medidas para reduzir os seus possíveis efeitos prejudiciais na sociedade, principalmente entre os cidadãos mais velhos. O que não compreende é a magnitude de todas as medidas tomadas para combater uma doença que, no limite, pode matar, anualmente, tantas pessoas como a gripe.

“Porque nós contabilizamos os mortos por gripe durante o inverno. O máximo que já tivemos foi sete mil por inverno, em Portugal, entre outubro de 2014 e abril de 2015. Porque é que o relógio não sofreu um reset para a Covid-19 em outubro e começámos a contar a partir daí?”, questiona-se. Na época 2018/2019 morreram 3.331 pessoas devido à gripe e 3.700 na época 2017/2018. Desde o dia 1 de outubro morreram em Portugal 1.132 pessoas vítimas de Covid-19.

Questionado concretamente sobre quais as medidas que consideram ser exageradas, António Jorge Nogueira afirma que a plataforma não entende as justificações para a obrigatoriedade das máscaras, “tanto na rua, como em espaços fechados”. “Entendemos que as pessoas doentes devem ficar em casa. Agora, as pessoas que não estão infetadas devem poder escolher se usam ou não as máscaras”, defende a Cidadania XXI. “Entendemos que é uma questão de direitos. As pessoas devem ter o direito de decidir se querem ou não utilizar máscaras.”

O porta-voz daquela plataforma acredita que maior parte das máscaras que estão a ser utilizadas atualmente não são nem eficazes nem certificadas, principalmente no que toca a crianças. “Nós sabemos como são as crianças: tocam na máscara, tiram-na, põem-na no bolso, sujam-na e depois voltam a colocá-la na cara para irem para a aula”, refere, apontando também à má utilização que é muitas vezes feita pelos adultos.

Mas um dos principais enfoques desta plataforma são mesmo as crianças. “É altamente improvável qualquer criança padecer da doença. Os casos são raros e sem sintomas”, explica. “Não faz qualquer sentido as crianças terem de estar sujeitas às mesmas regras por uma doença que neles quase não produz sintomas”, acredita António Jorge Nogueira.

“Mas atenção. Nós não negamos a doença. Temos familiares que se degladiam com ela. Parece-nos é desajustada a forma como tem sido criado este alarido público. Entrámos no negacionismo das doenças que matam muito, muito mais do que a Covid”, numa altura em que este coronavírus está a matar mais de 60 pessoas diariamente.

“O SNS está algemado aos procedimentos da Covid-19 e a esquecer-se das outras necessidades dos portugueses”, acusa a Cidadania XXI. Esta sexta-feira o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou os dados preliminares que mostram que das 1.132 mortes acima da média dos últimos cinco anos que se verificaram em outubro, apenas metade (526) se deve à infeção pelo SARS-CoV-2.

“Pessoas contaminadas devem ficar em casa em isolamento e serem tratadas e quando estão cuidadas devem voltar livremente para a sociedade. Todos os anos víamos pessoas que iam trabalhar doentes. E achamos que isso não devia acontecer. E isso pode ter sido uma coisa boa trazida pela Covid-19. Pode ser que os patrões deixem agora de obrigar as pessoas que estão doentes a irem trabalhar.”

“Ou há incompetência ou negligência intencional do Governo”
Este grupo de cidadãos considera ainda que a atuação da Direção-Geral da Saúde e do Ministério de Saúde tem sido particularmente criticável, pela forma como geriu o combate à pandemia.

“Andamos a gastar milhões de euros todos os dias em testes e a sua maioria são negativos”, critica, levantando ainda dúvidas sobre a eficácia dos testes PCR que estão a ser utilizados para detetar o SARS-CoV-2 e a forma como os mesmos são sugeridos.

“A política de testagem deveria ser ajustada no sentido de estar focada em doentes sintomáticos e contactos muito próximos destes, ao invés de ser usada como método de rastreio, como se verifica, por exemplo, nos casos em que se  testam turmas ou escolas inteiras com base num único teste positivo de uma pessoa apenas, ou quando todos os trabalhadores de uma empresa são obrigados à testagem”, considera António Jorge Nogueira. 

No entender do porta-voz da Cidadania XXI, este desvario relativamente aos testes e às medidas “extremas” só pode ter um motivo: “Ou é incompetência ou há negligência intencional do Governo”. “Tudo o que tem de ser decidido deve ser feito com princípios lógicos ou racionais e o Governo não está a usar nenhum desses princípios, estão a tentar incutir um medo irracional nos portugueses.

E António Jorge Nogueira acredita que está a haver um grande problema com a comunicação relativamente à pandemia e a forma de a combater. “Não é dada a hipótese a médicos de poderem contra-argumentar com aquilo que é dito na televisão porque são logo desconsiderados só por terem visões diferentes. Esquecemo-nos que a ciência é feita de contraditórios e de passos em frente e passos atrás.” No entanto, critica também a DGS por já ter dado certas indicações e depois voltar atrás.

Lançou ainda farpas pela forma como o Governo tem tratado os cidadãos no âmbito da crise sanitária. “Os portugueses são responsáveis, somos um povo extremamente inteligente. Mas temos sempre políticos que nos tratam como atrasados mentais”, acredita António Jorge, lembrando que foram os autarcas que se descontrolaram no início da pandemia, ao pedirem medidas mais pesadas do que aquelas que as populações queriam.

E aproveitou ainda para deixar uma palavra ao Presidente da República. “Quando temos um presidente hipocondríaco, será que podemos mesmo aceitar esta pessoa como sendo a ideal para estar à frente do país numa situação de crise como esta”, questiona-se.

Adoptar a estratégia sueca
A Cidadania XXI acredita que a melhor forma de combater a Covid-19 é adotando a estratégia sueca. Durante a primeira vaga os suecos optaram por medidas muito mais suaves do que os restantes países europeus.

As consequências foi uma taxa de letalidade muito superior à portuguesa (tendo ambos os países populações semelhantes). Mas quando a segunda vaga chegou em força à Europa, parecia que a Suécia não estava a ser afetada. Quando Portugal tinha mil e dois mil infetados diariamente, eram detetadas poucas dezenas de novas infeções no país a norte.

No entanto, nas últimas semanas a segunda vaga chegou em força à Suécia que conta já com mais de quatro mil casos diários de forma regular desde o início de novembro.

Mas apesar de a Suécia ter o dobro dos óbitos por Covid-19 do que Portugal, o porta-voz da Cidadania XXI lembra que “desde o início do ano até ao dia 29 de outubro, a Suécia está com 3.289 óbitos a mais” do que a média homóloga. “Em Portugal para o mesmos períodos, está com mais 6.947 óbitos de 1 de janeiro a 28 de outubro”, de acordo com o Sistema de Informação dos Certificados de Óbito.

No entender de António Jorge Nogueira, o Governo e os hospitais portugueses devem adotar a estratégia sueca: dar o máximo de liberdades possíveis aos cidadãos, protegendo especialmente os mais velhos e confiando na responsabilidade individual de cada português. E ao mesmo tempo concentrar-se nas outras doenças que existem, não as deixando para trás.

São todas estas críticas que serão endereçadas a Marcelo Rebelo de Sousa e a António Costa esta sexta-feira, quando for entregue o manifesto da Cidadania XXI.