A pandemia de Covid-19 está a afetar as economias mundiais de forma diferente e o elevado peso das pequenas e médias empresas (PME) em Portugal coloca o país na linha da frente do risco de destruição do tecido empresarial, a par da Grécia e de Itália. A conclusão é da agência Moody’s, que alerta para o impacto do vírus nos ratings das dívidas públicas em 2021.
“Economias como a Grécia, Portugal (Baa3 positivo) ou Itália, em que as pequenas e médias empresas representam uma larga proporção do PIB e do emprego, irão sofrer uma destruição económica acrescida dadas as reservas mais baixas das empresas, as menores alternativas de financiamento e os horizontes mais curtos”, alerta a agência norte-americana numa nota divulgada esta terça-feira.
A Moody’s explica que há economias que irão recuperar melhor, apontando para economias com maior diversificação e flexibilidade. Exemplifica que os elevados níveis de digitalização e automação de países como a Coreia e os nórdicos da Europa (como Dinamarca) poderão ser beneficiados. Em sentido contrário, países muito dependentes do turismo ou petróleo irão enfrentar maiores desafios. Economias fortemente ligadas aos serviços como o Reino Unido ou França deverão estar do lado dos países penalizados. De qualquer forma, a perspetiva geral é negativa.
“As amplas consequências económicas da pandemia e das medidas adotadas pelos países para a conter, criaram choques económicos, orçamentais e sociais que irão durar em 2021 e muito depois.” Moody’s
“O nosso outlook para a qualidade dos ratings soberanos em 2021 é negativa, a refletir as nossas expectativas para as condições fundamentais que guiam os ratings soberanos nos próximos 12 a 18 meses”, diz a Moody’s. “As amplas consequências económicas da pandemia e das medidas adotadas pelos países para a conter, criaram choques económicos, orçamentais e sociais que irão durar em 2021 e muito depois”.
Este impacto já se está a fazer sentir. Até esta segunda-feira, 65 (ou 60%) do total de 108 ações de rating soberano decididas este ano pela Moody’s foram negativas. A proporção fica muito abaixo da registada tanto em 2019 (20%) como em 2018 (30%). Desde 2016 — na altura do choque dos preços de petróleo — que não havia tantos downgrades, sendo que quase metade das revisões em baixas estiveram relacionadas com a pandemia. O próximo ano poderá trazer um agravamento.
“A curto prazo, os soberanos com rating mais baixo serão os mais afetados negativamente dada a menor resistência a nível económico e institucional, bem como o acesso mais limitado a financiamento em comparação com soberanos com perfis de crédito mais forte. No entanto, a médio prazo, soberanos ao longo de todo o espetro de ratings irão enfrentar crescentes desafios de trade-offs políticos causados ou agravados pela crise”, acrescenta.